O Brasil errou o alvo, e errou feio

Atenção! Este texto foi escrito levando em consideração os eventos que ocorreram até o dia de envio, em 26 de maio de 2023. As informações e opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente a posição oficial do Diário das Nações.

“O Brasil voltou!”. Com este verbete Lula anunciava a sua promessa de reconstruir o Brasil e que este deixasse de ser um pária internacional após sua vitória nas urnas em 2022. No entanto, o petista não parece ser visto com tal êxito ao que tange sua política externa. De fato, são inesperados os deslizes de Lula na condução de suas relações exteriores, haja visto a sua coesa administração nesse assunto em mandatos anteriores. Apesar disso, é inegável que seu posicionamento, em especial acerca do conflito entre Rússia e Ucrânia, tem gerado atritos no âmbito internacional que, certamente, o Itamaraty gostaria de não ter que contornar e, ademais, prejudicam a imagem do Brasil. Seja da afirmação de que ambos, Putin e Zelensky, eram responsáveis pela guerra até a proposição do “Clube da Paz” para a resolução do conflito e duras críticas à ONU, afirmando que esta não seria capaz de chegar a um acordo de paz para o empasse, é irrefutável que Lula tem tentado, incansavelmente, usar o assunto para alavancar e projetar o Brasil no cenário internacional. Mas seria essa a melhor estratégia para impulsionar o protagonismo brasileiro nas discussões exteriores? 

Em 10 de abril desse ano, a revista The Economist publicou uma matéria com o título “Brazil’s foreign policy is hyperactive, ambitious and naive” (em tradução: “A política externa brasileira é hiperativa, ambiciosa e ingênua”). Apesar de comentar não apenas sobre a política externa brasileira, mas também sobre acontecimentos domésticos, a revista comenta brevemente sobre dois elementos peculiares.  

Primeiramente, breve análise dos elementos que levaram a postura do petista a não ser levada tão a sério quanto gostaria. Na Diplomacia, é inegável que cordialidade e simbolismo tomam posição especial. Dessa forma, ao fazer posicionamentos equivocados, é árdua a missão de reformular falas já transmitidas. Em bom português: a primeira impressão é a que permanece. Tais percepções notam-se no insucesso de Lula ao tentar se encontrar com Zelensky no encontro do G7. Ao que poderia ter sido uma irrecusável oportunidade para remanejar laços entre Brasil e Ucrânia, a ocasião não passou de um constrangimento para o líder brasileiro. 

Em segunda instância, a incontornável importância do Brasil nas pautas de mudanças climáticas e meio ambiente, as quais o país não está sabendo aproveitar. Seja pelos importantes aquíferos, diversidade biológica, reservas minerais ou, principalmente, pelas florestas brasileiras, o país certamente é um agente de extrema importância e influência no assunto. Depois de pautas angulares como economia, Ucrânia e energia no G7, a abordagem da pauta sobre preservação do meio ambiente decerto não foi esquecida. É inquestionável que a questão ambiental se tornou inevitável nos acordos de cooperação entre países. E nesse ponto reside a influência brasileira. A importância natural que o Brasil assume no debate da pauta ambiental deveria ser o motor usado para alavancar sua imagem no cenário internacional. Ao invés de insistir em temas que se tornaram ruidosos para a diplomacia brasileira, o verdadeiro Soft Power reside na sua riqueza natural. 

Todavia, a realidade tem se tornada cruel para a possibilidade de uma verdadeira liderança brasileira na temática ambiental ao notar-se a disputa doméstica travada no Parlamento. Após votações no Congresso, a bancada ruralista no Brasil luta de forma oposta às vontades do Governo Federal ao que tange os planos para as políticas de preservação ambiental. Após a aprovação de uma MP (Medida Provisória) com trechos que afrouxam a preservação da mata atlântica e a votação da urgência de um projeto que dificulte a demarcação de terras indígenas, fica claro o retrocesso no planejamento das políticas ambientais do novo Governo. Além disso, é notável que as medidas alterariam as pastas do Ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva, e do Ministério dos Povos Indígenas, comandado por Sonia Guajajara, indicando o possível início de desgaste entre a própria base de Lula. Dessa forma, é interessante notar que, se a bancada ruralista atingir seus objetivos, na prática, haveria um retorno ao modo de partição das políticas ambientais do governo Bolsonaro, implicando em maior dificuldade para que Lula utilizasse da pauta ambiental como motor de suas relações exteriores, haja visto que as políticas ambientais do ex-presidente Jair Bolsonaro não eram consideradas prontamente suficientes para os outros agentes do cenário internacional. 

Portanto, é de suma relevância analisar como a política externa brasileira será conduzida pelos tempos seguintes. O Brasil continuará usando a guerra ucraniana como seu elemento de projeção internacional ou será adotada uma nova postura mediante os novos acontecimentos geopolíticos? Com certeza os entraves domésticos não devem ser analisados isoladamente, porque certamente influenciam nas relações exteriores brasileiras. Assim, quais poderão ser os futuros resultados das políticas internas brasileiras no cenário nacional e seus reflexos no panorama internacional? 

Texto de Lucas Sassaroli

Imagem: Getty Images/Reprodução the economist

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